sexta-feira, 18 de março de 2016

Lisboa, 2 de Janeiro de 1900: Teófilo Braga a João de Barros



Lisboa, 2 de Janeiro de 1900
Caro Poeta

Há já alguns dias que recebi o seu primeiro livro de poesias Algas -- tendo é certo lido logo e imediatamente. Leio sempre com curiosidades diversas as composições poéticas que me caem debaixo dos olhos; quando não acho conhecimento de forma, apelo para a originalidade ou a novidade da ideia; quando falha qualquer destes aspectos procuro ainda descobrir o temperamento ou organização do Poeta, que às vezes pode estar abafado pelas correntes batidas de um gosto dominante que o prejudique.
Só no fim deste inquérito é que deixo o livro ou a composição poética. O seu livro das Algas  também passou por este crivo; há ali conhecimento das formas, e há temperamento poético; e é muito, e por isso que promete largas esperanças é que não é já tudo. Para ir mais longe é questão da idade, que lhe há-de dar o contacto da realidade da vida, e de uma filosofia que dê ao seu espírito a visão universal.
Felicita-o com um abraço o seu
admirador e am.º At.º
Teófilo Braga
T. S. Gertrudes, n,º 70.






Publicada por Manuel de Azevedo, Cartas a João de Barros, Lisboa, s.d.


Nota - O velho, e então ainda idolatrado, positivista responde a um jovem poeta de dezanove anos, que acabara de publicar o primeiro livro, Algas, com palavras de apreço e encorajamento, não sem antes discorrer sobre o seu método de avaliação, eloquentemente enunciado... A forma benevolente e pedagógica como o faz -- em 1900, Teófilo era uma espécie de papa dos estudos literários -- é de assinalar. Algas, livro que tenho na minha pequena biblioteca, é uma meritória obra de estreia.

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